sexta-feira, 20 de maio de 2016

O Ironman sob o ponto de vista do atleta

              Já escrevi aqui no Blog sobre o Ironman, sobre como é a prova e como o triathlon começou. Mas uma coisa é ler sobre a competição sob o ponto de vista de um editor de blogs, outra coisa é ouvir relatos de atletas que estiveram na competição, viveram os dramas e as alegrias que só o esporte pode proporcionar. Como vocês sabem, o Ironman de Florianópolis está chegando, por isso se inspire com o relato de Léo Starling, atleta DX-3 que esteve presente em etapas dessa mega competição de Triathlon. 

Léo Starling:

        "Diferente do que muitos pensam, o Ironman está terminando (e não se aproximando o seu início). Os treinos específicos para a distância full na maravilhosa ilha de Florianópolis começaram já há alguns meses. Para alguns, duraram 36 semanas, para outros 20 e para os mais experientes, 12. Mas iniciaram mesmo, no dia da inscrição, que duravam há alguns anos atrás apenas alguns minutos, mas que nessa edição chegou a durar mais de um dia devido aos motivos econômicos que nosso país vivencia. O término será no dia da prova e este momento é indiscutivelmente a grande diversão; a hora de coroar toda a dedicação desprendida para vivenciar esse sonho inesquecível de se tornar um Ironman.

      A prova de Florianópolis é em geral muito agradável. O clima é extremamente favorável, o público é altamente receptivo, o staff faz um papel ímpar, dentre outras características. O grande stress para mim foi o momento pré-largada, não só devido à ansiedade, mas pelo frio que encontramos em Jurerê às 5:00 AM, o que exige uma grande concentração para estar focado na estratégia da grande prova. 

      A famosa sirene "Estouro da Boiada" eleva os batimentos à um nível de treino VO2 e é o momento de fazer uma natação explosiva (para a elite) mas para a maioria dos atletas, uma modalidade conservadora e protetiva devido ao grande contato físico inicial. Contornada a primeira boia, este risco minimiza muito e é hora de encaixar uma boa navegação para não fazer com que os 3,8k virem mais de 4.000 m de distância percorrida. A vantagem do IM Floripa é a pernada do "M" que dá um alívio na praia. Não são 3.800 m ininterruptos como em Fortaleza (e diferentemente da etapa nordestina, a neoprene é liberada, o que facilita e muito a flutuabilidade). A passagem pela areia é importante não só para hidratação e reposicionamento da musculatura e vascularização dos membros inferiores, mas pelo caráter de um certo alívio psíquico que acomete até mesmo aos nadadores mais experientes que fazem a prova pela 1a vez. De volta ao segundo trecho, é hora de avaliar a estratégia individual de cada um, ou mantendo a velocidade de cruzeiro, ou aumentando o passe para completar a segunda pernada em menor tempo. Enfim: "terra à vista".     
Chegou a T1. Para alguns essa etapa se assemelha à transição de uma prova short. Para outros dá tempo até de passar maquiagem. Em minha opinião, 5 minutos é um ótimo tempo para não se esquecer de nada no trecho que virá a seguir e será o mais longo da prova. Não vou detalhar o check list mas esquecer de algo na T1 pode influenciar e muito a performance no ciclismo. 

      Em cima da bike, é hora de fazer um aquecimento (que ma verdade nunca iremos fazer) para estabilizar a circulação corpórea em um outro padrão anatômico. A prova catarinense é composta por duas voltas e sua altimetria é bem suave. Temos na verdade 3 trechos por volta com algumas longas subidas. A primeira volta é bem rápida por causa da falta de ventos principalmente na região do túnel próxima ao centro da cidade. Já a segunda normalmente tem muitos ventos frontais, apesar que a etapa 2015 foi desprovida destes. Fora as condições naturais do percurso, o atleta deve se atentar para a hidratação e alimentação (tema exaustivamente abordado nas redes sociais) e torcer para não ter problemas mecânicos (como eu tive no Ironman Fortaleza 2015 ao ter um pneu tubular furado no km 01 da prova, o que me custou mais de 30 minutos no tempo final), mas se porventura isso acontecer, ter a tranquilidade de saber que nem tudo está perdido.

       Jesus, chegou a T2 (hoje temos que ser politicamente corretos não? Então pode substituir a primeira palavra se sentir mais à vontade). Essa não dá pra passar rímel, no máximo um batom (eu não passei). A segunda transição é rápida, não há muito em que se preocupar. Não há muito, mas há alguma coisa (voltamos ao check list). Vamos entrar em seguida na etapa que separará os "homens dos meninos".

       Está terminando (2/5 da prova). Sendo bem sintético e objetivo, o que penso sobre os 42k da corrida do IM é: protelar o shotdown, ou seja, a quebra. Em Fortaleza devido às condições climáticas ela ocorreu para mim no km 21. Em Florianópolis, devido ao clima ameno, ela ocorreu no 28. Daí entramos na fase de negociação entre corpo e mente. "Olhe, eu te dou um alívio nos próximos 200 m se você segurar estes 800 m no passe anterior". Coisas do tipo têm que ser implantadas. Espiritualidade, apoio familiar, determinação. O atleta é quem vai usar destes artifícios para vencer os 10 k finais que são destrutivos tanto para o finisher sub-17 h quanto para os top 10 que lutam pela ponta.

       Ao entrar na reta final, agora é como entrar no paraíso. Acabou o sofrimento. É apenas esperar seu nome ser falado na linha de chegada: "Atleta, you are an Ironman".

       Deixe as lágrimas despencarem e, quem sabe, comece a pensar na data de inscrição para a próxima prova full Ironman, pois este sobrenome estará eternamente incorporado ao seu."

           Espero que você tenha gostado desse relato, e que com isso você possa aprender e entender um pouco mais sobre como é o universo do Triathlon e do Ironman. Se você já teve alguma experiência em competições de triathlon comente abaixo, a DX-3 quer saber as histórias que cada um tem para contar. 

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