Já escrevi aqui no Blog sobre o Ironman, sobre como é a prova e como o triathlon começou. Mas uma coisa é ler sobre a competição sob o ponto de vista de um editor de blogs, outra coisa é ouvir relatos de atletas que estiveram na competição, viveram os dramas e as alegrias que só o esporte pode proporcionar. Como vocês sabem, o Ironman de Florianópolis está chegando, por isso se inspire com o relato de Léo Starling, atleta DX-3 que esteve presente em etapas dessa mega competição de Triathlon.
Léo Starling:
Está terminando (2/5 da prova). Sendo bem sintético e objetivo, o que penso sobre os 42k da corrida do IM é: protelar o shotdown, ou seja, a quebra. Em Fortaleza devido às condições climáticas ela ocorreu para mim no km 21. Em Florianópolis, devido ao clima ameno, ela ocorreu no 28. Daí entramos na fase de negociação entre corpo e mente. "Olhe, eu te dou um alívio nos próximos 200 m se você segurar estes 800 m no passe anterior". Coisas do tipo têm que ser implantadas. Espiritualidade, apoio familiar, determinação. O atleta é quem vai usar destes artifícios para vencer os 10 k finais que são destrutivos tanto para o finisher sub-17 h quanto para os top 10 que lutam pela ponta.
"Diferente do que muitos pensam, o Ironman está terminando (e não se aproximando o seu início). Os treinos específicos para a distância full na maravilhosa ilha de Florianópolis começaram já há alguns meses. Para alguns, duraram 36 semanas, para outros 20 e para os mais experientes, 12. Mas iniciaram mesmo, no dia da inscrição, que duravam há alguns anos atrás apenas alguns minutos, mas que nessa edição chegou a durar mais de um dia devido aos motivos econômicos que nosso país vivencia. O término será no dia da prova e este momento é indiscutivelmente a grande diversão; a hora de coroar toda a dedicação desprendida para vivenciar esse sonho inesquecível de se tornar um Ironman.
A prova de Florianópolis é em geral muito agradável. O clima é extremamente favorável, o público é altamente receptivo, o staff faz um papel ímpar, dentre outras características. O grande stress para mim foi o momento pré-largada, não só devido à ansiedade, mas pelo frio que encontramos em Jurerê às 5:00 AM, o que exige uma grande concentração para estar focado na estratégia da grande prova.
A famosa sirene "Estouro da Boiada" eleva os batimentos à um nível de treino VO2 e é o momento de fazer uma natação explosiva (para a elite) mas para a maioria dos atletas, uma modalidade conservadora e protetiva devido ao grande contato físico inicial. Contornada a primeira boia, este risco minimiza muito e é hora de encaixar uma boa navegação para não fazer com que os 3,8k virem mais de 4.000 m de distância percorrida. A vantagem do IM Floripa é a pernada do "M" que dá um alívio na praia. Não são 3.800 m ininterruptos como em Fortaleza (e diferentemente da etapa nordestina, a neoprene é liberada, o que facilita e muito a flutuabilidade). A passagem pela areia é importante não só para hidratação e reposicionamento da musculatura e vascularização dos membros inferiores, mas pelo caráter de um certo alívio psíquico que acomete até mesmo aos nadadores mais experientes que fazem a prova pela 1a vez. De volta ao segundo trecho, é hora de avaliar a estratégia individual de cada um, ou mantendo a velocidade de cruzeiro, ou aumentando o passe para completar a segunda pernada em menor tempo. Enfim: "terra à vista".
Chegou a T1. Para alguns essa etapa se assemelha à transição de uma prova short. Para outros dá tempo até de passar maquiagem. Em minha opinião, 5 minutos é um ótimo tempo para não se esquecer de nada no trecho que virá a seguir e será o mais longo da prova. Não vou detalhar o check list mas esquecer de algo na T1 pode influenciar e muito a performance no ciclismo.
Em cima da bike, é hora de fazer um aquecimento (que ma verdade nunca iremos fazer) para estabilizar a circulação corpórea em um outro padrão anatômico. A prova catarinense é composta por duas voltas e sua altimetria é bem suave. Temos na verdade 3 trechos por volta com algumas longas subidas. A primeira volta é bem rápida por causa da falta de ventos principalmente na região do túnel próxima ao centro da cidade. Já a segunda normalmente tem muitos ventos frontais, apesar que a etapa 2015 foi desprovida destes. Fora as condições naturais do percurso, o atleta deve se atentar para a hidratação e alimentação (tema exaustivamente abordado nas redes sociais) e torcer para não ter problemas mecânicos (como eu tive no Ironman Fortaleza 2015 ao ter um pneu tubular furado no km 01 da prova, o que me custou mais de 30 minutos no tempo final), mas se porventura isso acontecer, ter a tranquilidade de saber que nem tudo está perdido.
Jesus, chegou a T2 (hoje temos que ser politicamente corretos não? Então pode substituir a primeira palavra se sentir mais à vontade). Essa não dá pra passar rímel, no máximo um batom (eu não passei). A segunda transição é rápida, não há muito em que se preocupar. Não há muito, mas há alguma coisa (voltamos ao check list). Vamos entrar em seguida na etapa que separará os "homens dos meninos".
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxDC7zxxLoaiH-lrUk6xbMK1PEJTHOWisjCCEvM7ImykwFxlg1daWymDfsfMFvs2UOrRk7hZWdi5W8hW5BHpZQkjiGV1INcKdEpf610DC1oQcnrOyd1JvNdLpVO_jaQ8Sl0cvlpAtvTItk/s320/1401077543408.jpg)
Ao entrar na reta final, agora é como entrar no paraíso. Acabou o sofrimento. É apenas esperar seu nome ser falado na linha de chegada: "Atleta, you are an Ironman".
Deixe as lágrimas despencarem e, quem sabe, comece a pensar na data de inscrição para a próxima prova full Ironman, pois este sobrenome estará eternamente incorporado ao seu."
Espero que você tenha gostado desse relato, e que com isso você possa aprender e entender um pouco mais sobre como é o universo do Triathlon e do Ironman. Se você já teve alguma experiência em competições de triathlon comente abaixo, a DX-3 quer saber as histórias que cada um tem para contar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que achou deste texto? Comente abaixo qual tema você gostaria de aprender. Obrigado